"Neurociência da Transformação: Emoções, Crenças e Mudança Pessoal"
- 28 de set.
- 7 min de leitura
Todos nós já sentimos, em algum momento, que estamos presos a padrões que se repetem: pensamentos negativos, hábitos difíceis de largar, emoções que parecem comandar os nossos dias. Mas, e se o segredo para mudar não estivesse fora de nós, e sim no nosso próprio cérebro? É isso que a Dra. Tara Swart, médica, neurocientista e autora do livro The Source, defende: cada pessoa tem dentro de si uma fonte de transformação, basta aprender a acessá-la.
Hoje em dia, espiritualidade e ciência estão cada vez mais próximas, revelando um interesse crescente pela produção de evidência científica dos processos mais subjetivos e inefáveis de que trata a espiritualidade. A parte de mim, que acolhe um ponto de vista crítico e analista, necessita da confirmação empírica de que estas são ferramentas válidas e com utilidade prática para alcançar as transformações desejadas na minha vida.
Neste artigo vou partilhar contigo os pontos-chave da sua abordagem, traduzidos de forma prática para o teu dia a dia. Vais perceber como a ciência explica fenómenos que muitas vezes parecem “mágicos”, e como podes usar o teu cérebro para criar a vida que realmente desejas. O fio condutor é simples: quando compreendemos os processos mentais e alinhamos pensamentos, emoções e ações, conseguimos mudar comportamentos e alcançar resultados mais satisfatórios!
1. O cérebro como fonte de transformação
Durante décadas acreditou-se que o cérebro adulto era fixo. Hoje sabemos que tal não é verdade, pois graças à neuroplasticidade, o cérebro pode mudar, criar novas conexões e reforçar circuitos ao longo de todo o ciclo de vida, o que nos permite reforçar hábitos saudáveis e abandonar padrões limitantes. O problema é que muitas vezes funcionamos em “piloto automático”, repetindo os mesmos pensamentos e rotinas, o que bloqueia mudanças significativas.
👉 A tomada de consciência do conteúdo dos nossos pensamentos é o primeiro passo para sair desse ciclo: através da observação das nossas crenças e narrativas internas, conseguimos questioná-las e substituí-las por outras que sirvam melhor os nossos objetivos!
👉 Isto significa que não estás condenad@ a repetir padrões de ansiedade, pessimismo ou procrastinação. Se repetires novas práticas, crias literalmente novos caminhos neurais — como abrir uma estrada nova numa floresta densa.
Exemplo prático: se costumas reagir com irritação no trânsito, podes treinar a mente a responder com paciência. No início é difícil, mas com repetição a “estrada da calma” começa a ficar mais larga que a “estrada da raiva”.
2. O poder da visualização: ensaiar o futuro no presente
Estudos no campo das neurociências indicam que imaginar intensamente (com imagens, sons e até emoções) uma situação ativa áreas cerebrais muito semelhantes às que seriam ativadas se estivéssemos de facto a viver essa experiência. Um exemplo prático deste facto são os atletas que ensaiam mentalmente os seus movimentos terem desempenho melhor do que os que apenas treinam fisicamente. Isso acontece porque o cérebro não distingue totalmente entre experiência real e imaginada.
👉 Assim, ao visualizarmos de forma consistente aquilo que desejamos (uma conquista profissional, uma relação saudável, um novo estilo de vida), vamos “programando” o cérebro para reconhecer oportunidades e agir em consonância.
Tu também podes aplicar:
• Vais a uma entrevista? Imagina-te calmo(a), a sorrir, a responder com confiança.
• Queres correr uma maratona? Visualiza o momento em que cruzas a meta.
• Desejas uma relação mais saudável? Cria na mente a cena de diálogo aberto e afetuoso.
Quanto mais clara e repetida a visualização, mais o teu cérebro se “programa” para procurar situações e comportar-se de acordo com essa imagem.
3. Emoções: mensagens do corpo que não devemos ignorar
Muitas vezes olhamos para as emoções como incómodos a controlar: ansiedade, tristeza, raiva, mas Swart lembra que são sinais biológicos, que indicam necessidades ou ameaças e, quando reprimidas ou ignoradas, podem gerar stresse crónico e adoecimento:
• a ansiedade pode ser um pedido de atenção ao presente.
• a tristeza pode sinalizar a necessidade de recolhimento e cura.
• a raiva pode indicar que um limite foi ultrapassado.
Reprimir estas emoções é como tapar a luz vermelha no painel do carro sem resolver o problema. Mais cedo ou mais tarde, o motor vai falhar.
👉 Estratégia prática: quando sentires uma emoção intensa, em vez de a reprimir, pergunta-te: “O que é que esta emoção me quer mostrar?”
👉 Práticas que cultivem a consciência emocional, como mindfulness, meditação, respiração consciente e escrita reflexiva (journaling) ajudam a interromper respostas automáticas de stresse (mediadas pelo cortisol - hormona do stresse) e a ativar sistemas de calma, clareza e foco (mediados por neurotransmissores como a dopamina, serotonina e oxitocina).
4. As crenças que moldam a nossa realidade
Muitas vezes não é o mundo que nos limita, mas sim as histórias que contamos a nós próprios:
• “Não sou capaz.”
• “Nunca vou conseguir mudar.”
• “Não sou suficiente.”
Estas são crenças limitantes e cada vez que as repetes, estás a reforçar circuitos cerebrais que se tornam cada vez mais automáticos.
A boa notícia é que, tal como foram construídos, podem ser desconstruídos!
👉 O processo passa por:
1. Identificar crenças negativas.
2. Reformulá-las em crenças capacitadoras.
3. Reforçá-las diariamente através de práticas de repetição, visualização e ação coerente.
Exemplo: em vez de dizeres a ti própri@ “sou péssim@ a falar em público”, podes treinar “estou a aprender a comunicar cada vez melhor”.
5. Intuição: ciência ou magia?
A intuição é muitas vezes vista como algo irracional, no entanto, segundo Twart, esta tem uma base científica, uma vez que corresponde à integração rápida, e inconsciente, de experiências passadas armazenadas no cérebro.
Quando temos um “pressentimento” ou ouvimos a “voz interior”, o que está a acontecer é uma síntese neural de informações que não chegaram ainda à consciência.
👉 O truque está em aprender a distinguir entre intuição verdadeira (baseada em experiência) e medo ou preconceito. Isso desenvolve-se com prática: observar o que sentes, experimentar agir e depois verificar se fez sentido. Assim, aprender a confiar, mas também a calibrar, a intuição, é essencial para decisões mais ágeis e alinhadas.
6. O papel da atenção e do foco
Vivemos num mundo “hiperconectado”, onde a nossa atenção é constantemente disputada! No entanto, o cérebro só consegue processar uma quantidade limitada de informação em simultâneo e, quando dispersamos em demasia o nosso foco atencional, perdemos eficácia nas tarefas. Isso significa que, se passares o dia focado em problemas, vais ver cada vez mais problemas. Se te treinares a focar em soluções, vais reparar em oportunidades que antes passavam despercebidas.
👉 A chave é cultivar o foco consciente: escolher onde colocar a energia mental, desligar das distrações e organizar prioridades - “a energia segue a atenção” - por isso é tão importante escolher bem os pensamentos que alimentamos!
Prática útil: escolhe 3 prioridades por dia. Escreve-as e compromete-te a terminar antes de te perderes nas distrações.
7. A ciência por detrás da “lei da atração”
Embora o termo “lei da atração” seja frequentemente visto como esotérico, Tara Swart procura dar-lhe uma explicação científica: no cérebro existe o Sistema de Ativação Reticular (SAR), que filtra as informações que recebemos, e quando temos uma ideia ou objetivo muito presente, o SAR começa a destacar sinais relacionados com isso.
👉 Resultado: começamos a reparar em oportunidades, pessoas e situações que antes passavam despercebidas.
Exemplo: quando decides comprar um carro vermelho, de repente vês carros vermelhos em todo o lado. Eles sempre estiveram lá, o teu foco atencional apenas ficou mais direcionado para estes. O mesmo acontece com oportunidades de trabalho, pessoas com interesses em comum ou soluções criativas.
Não é magia: é foco seletivo! Mas para funcionar, precisa de ser acompanhado de ação consistente.
8. Rotinas que reprogramam o cérebro
Swart sugere práticas diárias simples que, realizadas consistentemente, potenciam mudanças profundas:
• Visualização de objetivos: criar imagens claras do que desejas
(imagens mentais vívidas, “vision boards”)
• Mindfulness: meditação ou respiração consciente (reduz stresse e aumenta clareza).
• Gratidão: escrever 3 coisas boas por dia (ativa circuitos de bem-estar e reforça otimismo).
• Exercício físico: melhora a oxigenação e a plasticidade cerebral
• Journaling: escrever pensamentos e emoções para ganhar clareza
Sono de qualidade: essencial para consolidar memórias e aprendizagens.
👉 Estas práticas criam um “ambiente interno” propício à transformação. São pequenos hábitos, mas o impacto acumulado é enorme!
9. Conexão, altruísmo e propósito
O ser humano é um ser social, de um ponto de vista antropológico, pelo que o cérebro humano está orientado para a conexão social: quando ajudamos os outros, sentimos satisfação e reforçamos as redes neurais ligadas à recompensa.
Ao mesmo tempo, viver com propósito — algo maior do que apenas conquistas individuais — não só dá sentido à vida, como fortalece resiliência emocional e saúde mental.
10. Conclusão: O cérebro como aliado
Segundo a Dra. Tara Swart, todos temos dentro de nós “a fonte” — the source — de transformação e não precisamos esperar por circunstâncias externas para mudar: o cérebro é a fonte de onde parte a transformação! Este possui plasticidade, é adaptável e capaz de se reinventar durante todo o ciclo de vida, no entanto, necessitamos de assumir um papel ativo: cultivar consciência, escolher os pensamentos e ações, praticar a visualização e alinhar mente, corpo e coração. Quando treinamos o foco, cultivamos emoções de forma saudável, reformulamos crenças e alinhamos ações com propósito, começamos a criar a vida que desejamos.
🌿 A boa notícia é que não há idade nem momento errado para começar. Cada dia é uma nova oportunidade de reprogramar o cérebro, abrir novas estradas na mente e escolher viver de forma mais consciente.
📌 Resumindo…
1. O cérebro é plástico e pode mudar ao longo da vida.
2. Visualização é uma ferramenta poderosa para reprogramar circuitos.
3. Emoções devem ser acolhidas e compreendidas, não reprimidas.
4. Crenças limitantes podem ser substituídas por crenças capacitadoras.
5. A intuição tem base científica e pode ser desenvolvida.
6. Atenção e foco são recursos escassos — usá-los sabiamente é essencial.
7. A chamada “lei da atração” tem uma base no sistema de ativação reticular.
8. Rotinas diárias (mindfulness, gratidão, exercício, journaling) consolidam mudanças.
9. Propósito e altruísmo reforçam a saúde mental e bem-estar.
10. Cada pessoa pode aceder à sua “fonte” de transformação interior.
👉 E tu, vais continuar no piloto automático ou vais aceder à tua própria fonte interior?




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